A FUNÇÃO SOCIAL DA TERRA
A ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos ensinam a conhecer e a agir. O discurso ideológico é aquele que pretende coincidir as coisas; anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e engendrar uma lógica que unifique pensamento, linguagem e realidade para identificar os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada, isto é, a imagem da classe dominante.
Universalizando o particular pelo apagamento de diferenças e contradições, a ideologia ganha coerência e força porque é um discurso lacunar que não pode ser preenchido. Em outras palavras, a coerência ideológica não é obtida malgrado as lacunas, mas, pelo contrário, graças a elas.
Sabemos, também, que na ideologia as idéias sempre estão fora do lugar, uma vez que são tomadas como determinantes do processo histórico, quando, na verdade, são determinadas por ele.
O saber é um trabalho. O trabalho para elevar à dimensão do conceito uma situação de não-saber, isto é, a experiência imediata cuja obscuridade pede clarificação. A obscuridade de uma experiência nada mais é senão seu caráter necessariamente indeterminado e o saber nada mais é senão o trabalho para determinar essa indeterminação, ou seja, para torná-la inteligível.
Só há saber quando a reflexão aceita o risco da indeterminação que lhe deu origem, quando aceita o risco de não contar com garantias prévias e exteriores à própria experiência e à própria reflexão que a trabalha.
Ora, a ideologia, para ser eficaz, precisa recusar o não-saber que habita a experiência ter a habilidade para assegurar uma posição graças à qual possa neutralizar a história, abolir as diferenças, ocultar as contradições e desarmar toda tentativa de interrogação. A ideologia teme tudo que possa ser instituinte ou fundador e só pode incorporá-los quando perderam a força inaugural e se tornaram algo já instituído.
Por essa via, a diferença entre