A FUGA DE ANDRE
O presente estudo de caso aborda a problemática inerente à vivência de um adolescente de 15 anos de idade, marcada pelo desencontro entre seu eu (em formação) e o contexto que o rodeia. Nesse processo de contradição assiste-se a um progressivo caminhar para o adoecer psicológico, pautado por angústia permanente e sensação de alienação pessoal. A intervenção psicoterapêutica, concebida no Modelo Humanista de acordo com a Psicoterapia Centrada no Cliente, teve por objetivo facilitar a formação de uma identidade saudável, que integrasse as transformações pessoais, as exigências sociais e as expectativas em relação ao futuro. Os resultados revelam um processo de crescimento pessoal e autonomia, marcado pela expressão livre de sentimentos e maior aceitação de si. Encaminhado a terapia, André (nome fictício) é um adolescente, que vive numa zona urbana do Norte de Portugal, com a mãe de 42 anos, o pai de 43 anos e um irmão de sete anos de idade. Tem condição socioeconômica média-alta, na medida em que seus pais desempenham cargos técnicos superiores. Frequenta o décimo ano da área de Ciências. André foi encaminhado para a consulta de psicologia clínica pelo médico psiquiatra com o motivo: "... jovem com dificuldades relacionais, isolamento, conflitos com as figuras parentais, alteração da conduta em casa e no contexto escolar, diminuição de rendimento acadêmico e comportamentos de automutilação". Somava-se ao encaminhamento uma indicação de psicoterapia. O pedido fora feito pelos pais de André, com queixa sobre suas dificuldades acadêmicas e preocupação com sua mudança de atitude, dentre as quais a aparência, a identidade sexual e o comportamento de automutilação. A vivência de André deixa adivinhar um sofrimento significativo ocasionado pelo sentimento de aprisionamento, incompreensão e revolta, mas, ao mesmo tempo, o medo de perda das figuras significativas de afeto. Embora desde cedo sentisse alguma diferença em relação