A força do teatro
O jogo teatral corresponde a uma fase do desenvolvimento humano. Em todos os povos, em todos os tempos, as crianças passam pela fase do faz-de-conta. Nesta fase, desenvolvem-se os jogos de identificação em que a criança assume papéis diversos, ensaiando-se para a vida. É um período de descobertas, em que o indivíduo amplia e estrutura sua capacidade emotiva, imaginativa e criativa, ampliando sua visão do mundo, exercitando o senso crítico, a responsabilidade, o relacionamento e a capacidade de administrar conflitos, ao mesmo tempo em que tem estimulado a consciência corporal, treina o equilíbrio, o uso da voz, a expressão facial e a coordenação motora.
No universo do faz-de-conta, tudo é permitido. Não existem barreiras, nem limites, a não ser a própria capacidade de imaginar. Desejos são realizados, medos são desmistificados, emoções são ensaiadas. Mente e corpo entram no jogo, exercitando-se, ganhando massa e agilidade, preparando-se para enfrentar desafios futuros. Jogando sozinho ou em grupo, o indivíduo aprende a conviver e valer-se por si próprio, a ouvir os outros e fazer-se ouvir, a assumir responsabilidades e permitir que os outros também assumam.[8]
Conflitos afloram naturalmente e são enfrentados sem culpa e sem temores, dando origem a um precioso banco de dados que será consultado mais tarde, quando o indivíduo tiver que tomar decisões complexas.
A capacidade de falar com clareza e fluência, bem como a capacidade de argumentar com lógica e astúcia, são treinadas durante estas brincadeiras. A expressividade do gesto e da face também é exercitada. E tudo isso numa grande brincadeira, que dura alguns anos.
Um imenso arsenal lógico, emocional e fisiológico é construído, com prazer. Por isso, o prazer estará sempre associado a este universo. No ser humano, esse mecanismo de identificação e simulação, o prazer do jogo interpessoal através do artifício de assumir outros papéis, permanece latente. Em geral não é exercitado,