A formulação do cuidado médico
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
Bertolt Brecht 1898 - 1956
O modo hegemônico de produção do cuidado 5
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi, Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. Pneumotórax Manuel Bandeira
Toda a história da humanidade nos revela o quanto mulheres e homens sempre se preocuparam em vencer a enfermidade e em buscar formas de aliviar a dor e restabelecer a saúde. No entanto, a identificação de algum sinal ou sintoma como um problema de saúde, e as formas de obter a cura e restabelecer a saúde variaram conforme a cultura, os conhecimentos e recursos disponíveis em cada sociedade e época histórica. Atualmente, em nossa sociedade, quando identificamos que estamos com algum problema de saúde, que não pode ser resolvido com os conhecimentos de que dispomos, pensamos, em geral, em procurar por um atendimento médico. Os profissionais de saúde particularmente os médicos, são por nós reconhecidos como capazes de julgar o nosso problema de saúde, identificar se estamos com alguma doença e propor medidas para nos tratar, para alterar aquilo que limita o nosso modo de viver e, assim, restabelecer a nossa saúde. A eles atribuímos autoridade para decidir sobre o que é normal e o que é patológico. Vários são os motivos que explicam o poder e a influência desses