a feminista como o outro
A feminista como o Outro
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1. Publicado originalmente em inglês como “The Feminist as
Other”, em BORDO, 1999, p. 192211. Copyright © 1997 The
Regents of the University of
California. Publicado em português com permissão da editora. Os termos masculino e feminino só são usados simetricamente no registro formal, como nos documentos legais. Na verdade, a relação entre os dois sexos não se parece muito com aquela entre dois pólos elétricos, porque o homem representa tanto o positivo quanto o neutro, como aparece no uso comum de homem para designar seres humanos de modo geral, enquanto a mulher representa só o negativo, definida por critérios de limitação, sem reciprocidade. Numa discussão abstrata, é irritante ouvir um homem dizer: “você pensa dessa forma porque é mulher”; mas eu sei que minha única saída é responder: “penso assim porque é verdade”, retirando da discussão, portanto, meu eu subjetivo. Estaria fora de cogitação responder: “e você pensa o oposto porque é homem”, já que fica subentendido que o fato de ser homem não é uma peculiaridade (...) Há um tipo humano absoluto, o masculino. A mulher tem ovários, útero; essas peculiaridades a aprisionam em sua subjetividade, circunscrevem-na nos limites de sua própria natureza. Diz-se freqüentemente que ela pensa com suas glândulas.
O homem soberbamente ignora o fato de que sua anatomia também inclui glândulas, como os testículos, e o de que eles também secretam hormônios. Ele pensa seu corpo numa conexão direta e normal com o mundo, que ele acredita apreender objetivamente, enquanto se refere ao corpo da mulher como uma prisão, um obstáculo, sobrecarregado por tudo o que lhe é peculiar.
(Simone de Beauvoir, The Second Sex, 1949)
O feminismo às margens da cultura
Como críticas da cultura, as teóricas feministas têm produzido desafios poderosos a concepções dominantes de natureza humana e filiação política, a normas da razão científica, filosófica e moral, a ideais de espiritualidade, a identidades e