A experiência chilena
Teoria e Debate nº 21 - maio/junho/julho de 1993
Publicado em 15/04/2006
Abordada inicialmente apenas como uma ilusão reformista, depois de 20 anos, a irrepetível experiência da Unidade Popular revisitada expõe importantes ensinamentos para qualquer proposição de se caminhar para o socialismo pela via da democracia
Alberto Aggio*
A então chamada experiência chilena, iniciada com a vitória de Salvador Allende nas eleições presidenciais de 1970 e esmagada pelo golpe militar de 11 de setembro de 1973, notabilizou-se mundialmente pela tentativa de construção do socialismo, mantendo e aprofundando a democracia.
Poucos foram os que reconheceram que ali se ensaiou uma perspectiva nova. A via chilena ao socialismo foi vista, na época e depois - em especial na esquerda brasileira -, como uma ilusão reformista.
Passados vinte anos e especialmente após o colapso do comunismo histórico, a proposição de se caminhar para o socialismo pela via da democracia parece algo consagrado nos projetos de qualquer esquerda que queira se identificar como moderna e contemporânea.
É necessário enfatizar, contudo, que a experiência da Unidade Popular, ainda que guarde eloqüentes ensinamentos políticos, constitui-se, sob qualquer roupagem, num fato irrepetível em qualquer tempo e lugar. Por esta razão, a exumação das idéias de Allende sob fórmulas supostamente novas, como por exemplo o "reformismo revolucionário", causa hoje a sensação de um procedimento anacrônico e acrítico.
Penso ser importante, em primeiro lugar, ultrapassar a imagem de tragédia do período. Entender o Chile de Allende desta maneira é instituir uma chave de leitura onde a história é vista como aproximação a um fim inexorável, pré-determinado, impossibilitando que se estude as intenções e estratégias, cálculos e erros, bem como o grau de responsabilidade dos atores político-sociais envolvidos naquele processo, dimensões sem as quais não se