A existência de deus
Para o mundo, de Cantuária; para a Itália, de Aosta; mas também de Bec, por ter sido Prior (1063) e Abade (1079) no convento de Le Bec; para todos, Anselmo, santo homem que creu e refletiu, sendo que tais reflexões o tornaram numa importante figura não só para os cristãos, mas a todo o pensamento Ocidental. Nascido em Aosta (1033), Anselmo surgiu como uma evolução filosófica em meio às controvérsias entre dialéticos e antidialéticos, tendo já em seu pensamento a distinção entre fé e razão, campos que dois séculos depois – devido aos instrumentos aristotélicos – tornaram-se mais distintos à Escolástica posterior. Porém, a distinção dos campos não consistiu em optar por um ou por outro, mas pelos dois, pois, embora seja de Anselmo a fórmula da primazia da fé sobre a razão, quando ele apelou para a razão lidou somente com a razão.
Aqui será tratado de um texto em que esse aparente conflito aparece, o Proslogion, onde fé e razão caminham de mãos dadas, tão juntas e tão separadas que faz com que o leitor desatento não perceba essa tenuidade.
No proêmio, Anselmo nos diz o que o motivou a escrever o opúsculo, nos mostra de qual pressuposto partirá – a fé – e quais são as suas intenções. Com isso reforça a primazia da fé tanto em suas palavras quanto na ordem em que foram escritas, alertando o leitor a respeito do caminho percorrido por ele e a percorrer pelos que desejam entender aquilo que acreditam, caminho que podemos definir pelo primeiro título dado ao opúsculo: A Fé procurando o Entendimento. O primeiro capítulo faz jus ao pressuposto e o autor presenteia o leitor com uma belíssima prece que, a meu ver, já na primeira linha mostra-nos a postura a ser tomada – para entender a fé – quando diz: “E agora, miserável homem, deixa um pouco as tuas preocupações, retira-te um pouco dos teus pensamentos tumultuosos”. Ou seja, Anselmo toma uma postura despida do mundo, num movimento de voltar-se para o interior, mas parece-me que