A estética fotográfica: O que a fotografia pode nos dizer sobre arte e representação
A aptidão para pensar objetos quaisquer e ordinários (...), espontaneamente odiosos (...) ou tabus sociais (...) enquanto belos, ou melhor, enquanto justificáveis de uma transfiguração artística (através da fotografia, o mais acessível dos instrumentos de produção artística), está fortemente ligada ao capital herdado ou adquirido escolarmente. Somente uma minoria julga, como quer a definição legítima da disposição legítima que qualquer coisa pode ser objeto de uma fotografia. Pierre Bourdieu
Fotografia: Imagem, Representação e Distinção
Pierre Bourdieu localiza a prática da fotografia na esfera mais ampla das práticas sociais de formação de identidade coletiva e refere-se a construção de álbuns fotográficos como um ritual de integração que cumpre uma função normalizadora com a mesma clareza de uma lápide tumular. Ele argumenta que o que caracteriza de fato as fotografias familiares é a sua função determinada pela rede de relacionamentos sociais e não sua qualidade pictórica. A relação dos indivíduos com os instantâneos é na verdade a ligação primitiva com objetos de fetiche. Em Un Art Moyen, embora o título do livro aponte a fotografia como objeto de pesquisa, é evidente que não é sobre a sua materialidade que ele se debruça, mas sim sobre a prática social de “tirar fotos”.
Ali, Bourdieu lança as alicerces de um projeto intelectual que assume por missão revelar as relações de dominação socialmente estruturadas na esfera da cultura e seus mecanismos de realização ou subversão no campo das práticas.
Anos depois, em A distinção, Bourdieu pesquisa mais profundamente a aquisição do capital simbólico e efetiva uma crítica social do julgamento do gosto. Para o sociólogo, o mundo social funciona concomitantemente como um sistema de relações de poder e como um