A espera do escolhido
À espera do escolhido: Matrix e messianismo.*
Bruno Amaral Alves de Oliveira**
Sociedades se desenvolvem e dão significado às suas experiências através de códigos, símbolos, rituais, dando assim rosto a sua cultura, ao seu modo de organização social. A criação da identidade de determinada sociedade passa por vezes pela criação de uma explicação para a existência e nascimento desse grupo, que se dá muitas vezes a partir do emprego do mito. Este explica a origem dos componentes do grupo, dá sentido às condições em que se encontra (situações de jugo, fome, guerras) sendo muitas vezes o ponto de partida para a escrita da história do mesmo.
A crença em mitos de origem onde se relata a existência de um ser extraordinário, um criador ou salvador poderoso, alguém que possa mudar a realidade em que está inserida aquela sociedade (ser este pelo qual muitas vezes se espera, e vive) é presente em diversas sociedades ao redor do globo e ao longo dos tempos. O “escolhido” e as realizações advindas deste foram ou são aguardadas desde o estabelecimento dos mitos dos quais são oriundos nos quatro cantos do mundo em momentos e culturas diferentes. Seja no judaísmo, cristianismo, budismo ou no islã, a crença em um ser extraordinário, sendo este um humano ou uma divindade, molda e mobiliza imaginários, podendo tornar esta espera parte integrante de determinada cultura.
Tão antiga quanto a espera por messias libertadores são as manifestações artísticas que fazem alusão a estes fenômenos. Além de obras referenciais para religiões, como a Bíblia, a Torá ou o Corão, também trabalhos laicos contém em si características messiânicas. Em “Os luziadas”