A especificidade do Romanceiro da Inconfidência
Cecilia Meireles inovou, ao escrever seu Romanceiro da Inconfidência. Pegou de um tema abrangente, histórico, até certo ponto nacional, coisa que não tinha feito antes.
É com o Romanceiro da Inconfidência que ela passa a exprimir o drama da liberdade em sua luta contra os poderes tirânicos. Tudo indica que — aí sim — ela de fato deu corpo àquele "impulso de investigação temática" que lhe faltava, senão no plano da reflexão (= da filosofia), pelo menos no plano das emoções e dos mais altos sentimentos humanos.
É verdade que uma investigação temática (= mergulho "reflexivo" no assunto) pressupõe igualmente um mergulho da alma na natureza dos fatos, e, portanto, uma reflexão sobre aquilo de que se está falando. Ora, Cecilia fez isso com a sensibilidade, com a comoção humana.
De fato, ela não tinha um pendor, digamos, "pensamental", como Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade e outros. Mas isso não é imprescindível num poeta. Nós devemos analisar um poeta pelo que ele tem ou por aquilo que ainda lhe falte, mas não pelo que ele absolutamente não tem. Da mesma forma que não podemos querer que um fundista dos 1.500 metros vencesse os cem metros rasos nas Olimpíadas. Igualmente, entre os poetas, também há os gêneros e as vocações.
Os dois sentidos da musicalidade
Outro ponto importante está na reconhecida musicalidade da poesia ceciliana. É preciso considerar duas manifestações dessa musicalidade, a do verso e a da palavra. Um verso é uma "linha" de palavras, uma linha provida de melodia.
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Essa melodia costuma ser fácil nos versos curtos, e complexa nos versos longos. Por quê? Porque a sintaxe dos versos curtos costuma ser mais simples, apresentar menos inversões (= hipérbatos) e um menor acúmulo de elementos. Um verso curto costuma retomar uma sintaxe próxima à da fala cotidiana.
No Romanceiro da Inconfidência, nós notamos uma bela variedade de versos curtos, sobretudo de