A era do pós-antibiótico e seus mistérios
Em abril de 2008, na Suécia, a morte de um indiano causada por uma infecção de pele causou espanto aos médicos. Fora descoberto que o motivo da morte tinha sido uma bactéria com uma espécie de mutação nunca antes vista. Tinha sido trazida pelo paciente da Índia, e era imune a praticamente todos os tipos de antibióticos. No ano seguinte, em referência à sua origem, a enzima que tornava o micro-organismo quase imbatível foi batizada de New Delhi metallo-beta lactamase 1 - e o nome logo se transferiu à bactéria, hoje conhecida como NDM-1.
Os antibióticos têm pouca ou nenhuma efetividade contra ela. Em 2010, passou por Europa, Austrália e Estados Unidos, chegou ao sul do Brasil ano passado e já em 2014, foi encontrada em dois pacientes no norte do Paraná, na cidade de Londrina. O tratamento das infecções urinárias e de pele que ela causa é longo, caro e repleto de efeitos colaterais. Nos casos mais graves, não há nenhum antibiótico capaz de combatê-la. As doenças que ela causa levam à morte.
Um relatório divulgado no fim de março pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou que cerca de 500000 casos de tuberculose em 2012 foram causados por bactérias super-resistentes em todo o mundo. Até 2015, os casos podem ultrapassar a marca de 2 milhões. Ou seja, milhões de pessoas podem adoecer como se fosse o início do século XX, antes da descoberta do primeiro antibiótico.
“Atingimos um ponto em que não há tratamento para bactérias tão resistentes. Todas as drogas disponíveis não funcionam e, se alguém estiver infectado com alguma delas, o caso pode ser fatal”, diz Caetano Antunes um dos maiores especialistas no Brasil no estudo de antibióticos, e pesquisador da Fiocruz no Rio de Janeiro. “Vamos voltar ao tempo onde não existia antibióticos, quando tratávamos simples doenças de pele com amputações.”
O fim da eficácia dos antibióticos não está longe, afirma Antunes: “Se não tomarmos cuidado, logo estaremos em uma era