A epistemologia de habermas
Umbilicalmente relacionada à distinção kantiana entre natureza e liberdade, a dualidade entre interpretação/explicação, ciências naturais/ciências do espírito, perpassa as ciências sociais – na forma de problema epistemológico par excellence, já que ambos os extremos daquela díade estão subsumidos um ao outro (mas nunca reduzidos) na práxis da pesquisa, como argumenta Habermas. Às diferentes maneiras de tratar o problema, Habermas questiona duas em particular (das quais, obviamente, podem se extrair outras intermediárias): uma positivista, que descarta a compreensão em prol da objetividade, do datum brutum - ou, como diz Bourdieu “[...]Reinterpretado segundo uma lógica que é simplesmente a do empréstimo cultural, o imperativo científico da submissão ao fato leva à demissão pura e simples perante o dado ”; e outra hermenêutica, que descarta a objetividade ancorada em regularidades para buscar a compreensão dos sentidos singulares manifestos em situações específicas. A maneira mais frutífera seria, portanto, substituir a simples justaposição de abordagens unilaterais por uma epistemologia que equilibrasse esta dualidade básica. Com este propósito, Habermas mapeia alguns tratamentos que tal dualidade assumiu ao longo do tempo (no que todas compartilham o descaso com o papel da linguagem) chegando à conclusão de que a separação metodológica, tornada possível pelo apartamento ontológico entre natureza e homem, interpretação e explicação, promoveu uma dissolução dos elos processuais históricos – requisitos necessários para a autocompreensão dos sujeitos e, consequentemente, para a eclosão de ideologias.
A sociologia executada neste contexto é incorporada pelo modelo das ciências naturais, que buscam, através de uma estratégia positivista (ou materialista, nos termos de Lacey), o controle e, no caso das ciências humanas, a orientação do agir. Como consequência, essa metodologia que busca eliminar seus condicionantes humanos – a