a educação das mulheres
“Durante 322 anos – de 1500 a 1822 -, período em que o Brasil foi colônia de Portugal, a educação feminina ficou geralmente restrita aos cuidados com a casa, o marido e os filhos. A instrução era reservada aos filhos (homens) dos indígenas e dos colonos. Esses últimos cuidavam dos negócios do pai, seguiam para a universidade de Coimbra ou tornavam-se padres jesuítas. Tanto as mulheres brancas, ricas ou empobrecidas, como as negras escravas e as indígenas não tinham acesso à arte de ler e escrever.”
Segundo a autora, tal questão remete-nos à tradição ibérica, transplantada de Portugal para o Brasil. A metrópole lusa havia recebido dos árabes,2 durante os cerca de 800 anos de presença na Península Ibérica, elementos culturais importantes, como o de considerar a mulher um ser inferior.
Note-se, porém, que também para a tradição católica alguns dos autores bíblicos partilhavam dessa premissa, como Timóteo.
Imbecilitus sexus = categoria à qual pertenciam mulheres, crianças e doentes mentais – os escritores e poetas, tanto em Portugal quanto no Brasil, costumavam não valorizar a instrução feminina e expunham publicamente sua opinião sobre o assunto - “mulher que sabe muito é mulher atrapalhada. Para ser mãe de família, saiba pouco ou saiba nada”.
A autora cita vários exemplos sobre o que se dizia a respeito de como as mulheres deveriam se comportar em casa e, sobretudo, em público: a mulher não tinha necessidade de ler e escrever e, se possível, não deveria falar; quando andassem pelas ruas, não deveriam chamar a atenção sobre sua figura, não deveriam, de preferência, ser notadas.
Gonçalo Trancoso (pp. 79-80): poeta e alfabetizador português famoso entre os homens lusos entre 1560 e 1600 negou a uma dama da sociedade a alfabetização, pois aquela já tinha passado da idade de aprender. No entanto, enviou a mesma dama um abecedário moral, onde encontravam-se importantes indícios do padrão de comportamento desejável da