a economia de celso furtado
A QUESTÃO DA LEI DE SAY E O RETORNO À TEORIA DO
SUBDESENVOLVIMENTO DE CELSO FURTADO
Salvador Teixeira Werneck Vianna
Marcos Vinicius Chiliatto Leite
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da década de 1990 dominou, principalmente na América Latina, a ideia de que o caminho único e correto para o desenvolvimento econômico passava pela liberação das forças de mercado. No campo acadêmico, as teorias de cunho neoclássico, marcadamente presentes nas escolas novo-clássica e novo-keynesiana, predominavam nas universidades e centros de pesquisa. Os aparatos estatais, nessa visão, eram identificados como promotores de distorções e ineficiências, e sua presença na economia deveria ser minimizada, limitando-se à provisão de bens públicos como segurança, justiça e estabilidade monetária. As teorias heterodoxas – keynesianas e pós-keynesianas, desenvolvimentistas, marxistas etc. – resistiram em poucos centros, quase esquecidas pelo mainstream, marcando sua discordância dos argumentos ortodoxos, porém com sua capacidade de influência bastante reduzida.
A crescente constatação empírica da inadequação desse paradigma, traduzida por taxas modestas de crescimento no mundo subdesenvolvido, aliada à eclosão da profunda crise econômica em que a economia global hoje se encontra, vem abrindo espaço para uma mudança de paradigma, permitindo que as ideologias neoliberais percam credibilidade e abram caminho para abordagens alternativas.
Nesse contexto, duas considerações se fazem necessárias.
A primeira é a revalorização do Estado e das políticas públicas como mecanismos de promoção do desenvolvimento e de proteção da sociedade, em particular as mais desfavorecidas, dos efeitos deletérios das fases descendentes dos ciclos econômicos, que se exacerbam num ambiente de liberalização e desregulação. A segunda é o resgate de autores e de correntes de pensamento identificados com os temas das dificuldades intrínsecas ao funcionamento de mecanismos de mercado;