A DIMENSÃO SOCIOECONÔMICA DA VITIVINICULTURA GAÚCHA
VITIVINICULTURA GAÚCHA
Carlos Águedo Paiva
Gláucia Campregher
Luiz Lentz
1) Introdução
A vitivinicultura é um segmento econômico muito particular. Desde logo, este segmento se diferencia da grande maioria das demais agroindústrias - como a sucroalcooleira; o complexo soja; as carnes; etc. - pelo fato de seu produto final não ser uma commoditie. De outro lado, a vitivinicultura também se distingue dos mercados agroindustriais de insumos para a agropecuária (sementes certificadas; adubos e fertilizantes; máquinas e implementos; etc), caracterizados por elevadas barreiras à entrada e, conseqüentemente, por elevado grau de monopólio.
Na realidade, a vitivinicultura é um dos raros exemplos de cadeia agroindustrial organizado de acordo com o padrão da concorrência imperfeita (virtualmente) pura1. Mais: ao contrário de outras atividades agroindustriais que se organizam sob a forma de concorrência imperfeita não-oligopólica – como a indústria de queijos finos, por exemplo –, o segmento vitivinícola se caracteriza pelo fato de que a imperfeição competitiva não se restringe ao elo especificamente industrial da cadeia, mas transborda para a produção agrícola. Esta particularidade se impõe de forma tão mais notável quando mais a indústria e o complexo comercial vinícola exploram o terroir enquanto elemento de diferenciação competitiva. Naquelas situações em que o vinho é caracterizado primordialmente por sua origem territorial (Rioja, Bourdeaux, Mendonza, etc.) em detrimento relativo das cepas vitícolas (Cabernet Sauvignon, Merlot, Riesling, etc.) ou da “marca” da indústria processadora (Dom Perignon, Valduga, Veuve Clicquot, etc), o ingresso de novos produtores no elo agrícola da cadeia produtiva passa por um cerceamento relativo, associado à necessidade de aquisição de terras no território pertinente. Em tais situações, parte da renda extraordinária associada a uma denominação de origem particularmente valorizada tende a