A Diferença em Debate
Professor Adjunto de Sociologia, Departamento de Ciências Sociais – Universidade Federal de São Carlos/UFSCar. richardmiskolci@uol.com.br
Um poema de fins do século XIX descreve dois personagens em um belo jardim. Voltando-se para o de aparência triste, o poeta pergunta quem ele é e ouve a seguinte resposta: "Meu nome é amor". Nesse momento, o outro personagem se dirige ao poeta e grita:
Mente. Porque seu nome é vergonha. E eu sou o amor. E queria estar só neste jardim até que ele chegou, sem ser convidado, à noite. Sou o amor verdadeiro, preencho os corações de rapaz e moça com chama mútua. Então, suspirando, o outro disse: Como queira, eu sou o amor que não ousa dizer seu nome.1
O poema Dois Amores (1894) de Lorde Alfred Douglas não apenas consagrou uma forma de compreender o amor entre pessoas do mesmo sexo, como ainda expôs uma estratégia do poder no que concerne à forma como nossa sociedade divide as vidas sentimentais entre as enunciáveis e as que só existem no silêncio. Ao contrário do que pode parecer, são vidas umbilicalmente relacionadas, pois como advertiu Michel Foucault:
Não se deve fazer divisão binária entre o que se diz e o que não se diz; é preciso tentar determinar as diferentes maneiras de não dizer, como são distribuídos os que podem e não podem falar, que tipo de discurso é autorizado ou que forma de discrição é exigida a uns e outros. Não existe um só, mas muitos silêncios e são parte integrante das estratégias que apóiam e atravessam os discursos (Foucault, 2005:30).
Esta advertência é o ponto de partida de Eve Kosofsky Sedgwick em A Epistemologia do Armário. Seu estudo retoma o projeto inicial de Foucault expresso em História da Sexualidade I: A Vontade de Saber, ou seja, o objetivo de analisar a sexualidade como um dispositivo histórico do poder fundado em formas de regulação da vida social e individual.2 A empreitada de fôlego começou cinco anos antes, quando, em seu livro Between Men _ English