A dicotomia do que é real e do parece real em Blow Up, de Michelangelo Antonioni
1346 palavras
6 páginas
O filme fala de um fotógrafo e suas relações com as pessoas de sua época, nos seus moldes “modernos”. Usando dessa figura do fotógrafo, que pela natureza de seu trabalho se torna um profissional detalhista, Antonioni desenvolve uma narrativa na qual as relações de interesse do personagem principal são problematizadas na época em que vivia, em que a alienação e não-preocupação com o rumo das coisas faziam parte do pensamento dos jovens. Entretanto, diferente da maioria, Thomas — personagem principal —, não se sente atraído por esse jogo de interesse por trás do relacionamento que construía com as pessoas. Temos como exemplo o fato de que, sendo um fotógrafo renomado, sempre se viu cercado de mulheres bonitas e ditas “perfeitas”, e o que seria um êxtase existencial pra qualquer pessoa “comum” ( se ver cercado de gente bonita, ter prestígio entre os famosos, etc) acaba caindo no usual e até mesmo banal, acarretando desinteresse. Thomas torna-se uma pessoa blasé, sem interesse por aquilo que muitos dariam valor. Não abusa nem menospreza sua fama e prestígio, apenas a ignora por assim dizer. É interessante realçar que mesmo Thomas tentando estar sempre alheio à essa vida de glamour e jogos de interesses, o próprio não consegue ficar totalmente ileso e isolado em sua ilha de indiferença —- há de se lembrar que é um ser humano, tendo todos os vícios e virtudes inerentes à espécie, sendo assim há situações em que abusa do poder em suas mãos, alcançando objetivos através de jogos psicológicos um tanto quanto duvidáveis moralmente. Temos de exemplo a cena em que está fotografando quatro modelos e as trata de forma rude e superior, as diminuindo a simples objetos que terão suas imagens registradas num filme fotográfico: tratando-as tal como se ele fosse um Deus, dotado do poder do registro imagético e elas, as modelos, simples coisas que deveriam implorar para que fossem fotografadas. Há abuso ali, há submissão, há até mesmo sadismo na atitude do fotógrafo