A (des)construção da América portuguesa
Povos nativos, negros e europeus forjando uma nova civilização.
Lair de Paiva Junior
USP
São Paulo-SP
Junho /2013
Curiosamente, na maioria das vezes em que nós, brasileiros, lemos ou ouvimos a pronuncia do verbo forjar temos, quase inconscientemente, a sensação primeira de que a palavra tratará de algo inventado ou falsificado. E sendo assim, somente resgatamos a outra acepção deste vocábulo – fazer; fabricar; fazer na forja ou fornalha.1 – quando o assunto se encaminha para este outro sentido que tal palavra pode designar.
Meditando sobre a história e o processo de formação da civilização brasileira entendemos que este vocábulo nos auxilia de forma sutil a sintetizar o complexo em questão. Primeiro, porque seu “fazimento” – como diria Darcy Ribeiro2 – ou construção se deu com a contribuição e o trabalho de nativos, negros e europeus. Segundo, pelo fato da lamentável orquestração européia nesta construção, em especial de portugueses, que impuseram violentamente aos demais povos que aqui se amalgamaram, as diretrizes de sua cultura ibérica, resultando de tal maneira numa civilização cuja cultura delineouse com fortes traços caricatos ou do tipo falsificado de uma idealização cultural lusitana.
Consideramos que a tragédia só não foi maior e que ainda sim foi possível ao povo brasileiro conquistar uma singularidade e uma bela diversidade cultural – ainda que com aberrações inevitáveis – pelo fato de que alguns dos mais louváveis elementos culturais e a sabedoria milenar dos povos nativos, a qual inclusive possibilitou aos europeus sobreviverem nos trópicos3, resistiram século após século. O mesmo pode-se dizer sobre os povos vindos posteriormente da África, que além de contribuírem através da vivacidade de suas culturas, construíram quase toda riqueza material do Brasil4.
Tendo em vista esta dualidade que forjou a civilização brasileira, nos esforçaremos em esboçar o caráter da (des)construção da