A câmara clara - roland barthes (resumo)

4651 palavras 19 páginas
A CÂMARA CLARA – Nota sobre a fotografia
ROLAND BARTHES
RESUMO

Meu interesse pela Fotografia adquiriu uma postura mais cultural. Decretei que gostava da Foto contra o cinema, do qual, todavia, eu não chegava a separá-la. Em relação à Fotografia, eu queria saber o que ela era “em si”, por que traço essencial ela se distinguia da comunidade das imagens. Eu não estava certo de que a Fotografia existisse, de que ela dispusesse de um “gênio” próprio.

A Fotografia é inclassificável. O que a Fotografia reproduz ao infinito só ocorre uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente. Ela reduz sempre o corpus de que tenho necessidade ao corpo que vejo; ela é o Particular absoluto.

Uma foto não pode ser transformada filosoficamente, ela está inteiramente lastreada com a contingência de que ela é o envoltório transparente e leve. A Fotografia é sempre apenas um canto alternado de “Olhem”, “Olhe”, “Eis aqui”. É por isso que, assim como é lícito falar de uma foto, parecia-me improvável falar da Fotografia.

Tal foto, com efeito, jamais se distingue de seu referente. Perceber o significante fotográfico não é impossível, mas exige um ato segundo de saber ou de reflexão. Diríamos que a Fotografia sempre traz consigo seu referente, ambos atingidos pela mesma imobilidade amorosa ou fúnebre, no âmago do mundo em movimento. A Fotografia pertence a essa classe de objetos folhados cujas duas folhas não podem ser separadas sem destruí-los; são dualidades que não podemos perceber.

A Fotografia é inclassificável porque não há qualquer razão para marcar tal ou tal de suas ocorrências. As fotos são signos que não prosperam bem, que coalham como leite; uma foto é sempre invisível: não é ela que vemos.

Os livros que tratam da Fotografia são técnicos ou sociológicos. Nenhum me falava com justeza das fotos que me interessam. Resolvi tomar como ponto de partida de minha busca apenas algumas fotos, aquelas

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