A CULTURA E URBANOS NO EGITO
Os estudos sobre a cidade no Egito antigo foram, durante muito tempo, negligenciados pelos pesquisadores dessa cultura. Segundo o egiptólogo Manfred Bietak (1979: 97) há dois fatores principais que explicam essa negligência: a atividade dos primeiros arqueólogos, que se preocuparam especialmente em escavar objetos de valor estético para as exposições dos museus, e a localização dos vestígios das antigas cidades egípcias, que tem como principais obstáculos algumas condições geográficas e geológicas específicas do vale do Nilo. Outra dificuldade deriva de que, no antigo Egito, enquanto os templos e monumentos destinados à eternidade eram erigidos com materiais estáveis como a pedra, as cidades e vilas tinham suas casas construídas com materiais frágeis e perecíveis, como os tijolos de adobe e fibras vegetais (MUMFORD, 2008: 95). Esse fato prejudicou a conservação dos assentamentos urbanos, pois as moradias eram feitas para durar apenas o tempo de vida de seus proprietários, e assim que ruíam, em um espaço disputado, novas construções se sobrepunham às antigas, tal como ainda ocorre nos dias atuais. Isso é facilmente demonstrado pela Arqueologia por meio de estudos estratigráficos em áreas de assentamentos urbanos em diferentes contextos. Alguns centros urbanos, porém, foram construídos no deserto, o que propiciou a sua preservação e, consequentemente, sua utilização como fonte para os arqueólogos que se preocupam com o problema da cidade no Egito antigo12. Segundo Margaret Bakos e Adriana Barrios (1999: 71), para os egípcios, construir cidades no deserto significava impor ordem a um espaço caótico. Isto está relacionado ao fato do deserto estar associado a Seth e ao caos, enquanto as terras férteis das margens do Nilo estavam associadas a Maat e à ordem. Dentre os casos raros, podemos contar as ―cidades de pirâmides‖ dos Reinos Antigo (c. 2575-2134 a.C.)13 e Médio (c. 2040-1640 a.C.), dentre as quais destaca-se aquela construída por