A cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista
Este trabalho tem como objetivo refletir acerca de algumas características da cultura profissional do psicólogo brasileiro, tentando articulá-las com a crescente hegemonização da ideologia individualista vivida em nosso país desde os anos 60.
Para tanto, vou procurar definir “cultura profissional”; que aspectos deste ideário individualista marcam a identidade e a cultura profissional do psicólogo no Brasil.
O modelo hegemônico de subjetividade no campo psi é o do sujeito psicológico, desenvolvido a partir do ideário individualista e engendrado pelos próprios saberes psi.
A ideologia do individualismo representa um sistema de ideias, ou como disse Duarte (1988), uma tendência, uma corrente, um fluxo localizado de ideias e valores presente nos segmentos letrados e intelectualizados das classes médias das sociedades modernas.
Este ideário, por sua vez, foi o que possibilitou a emergência de um campo de saberes psi e, consequentemente de um tipo de subjetividade específica dentro das sociedades modernas.
Com a ideia do inconsciente, o que a psicanálise veio empreender foi a problematização e superação da visão consciencialista do ser humano.
Assim, o indivíduo racional, autônomo, senhor de si, não passaria de uma ilusão, pois o inconsciente é justamente o que determina suas motivações e ações.
Em outras palavras, a psicanálise passa a trabalhar com uma nova concepção de indivíduo: o sujeito psicológico, cuja verdade é a do seu desejo inconsciente.
Figueira (1985), pensando sobre o processo de modernização da sociedade brasileira e a difusão da psicanálise, aponta como nos anos 60/70 a psicanálise se difundiu por diversas vias.
Sem dúvida, é o sujeito psicológico que permeia os saberes e as práticas dos profissionais psi, concepção que surgiu a partir destes saberes e que é compatível com o Zeitgeist da modernização da sociedade