A cultura do fácil
– Luís Giffoni –
Ainda louvamos, no Brasil, a cultura do fácil. Se é fácil, é bom. Se não faz pensar, é ótimo. Se apenas diverte, é genial. Se não exige neurônios, merece os altares. Se anestesia, leva ao paraíso. Acreditamos que entretenimento é cultura, banalidade é conhecimento, superficialidade é panaceia, e isso basta para o sucesso do país e das pessoas.
Detestamos as ideias, o debate, o raciocínio. São inoportunos, sugadores de massa cinzenta, ladrões do tempo que poderíamos dedicar às telenovelas. Dizemos que ciência, literatura, política e filosofia não enchem a barriga, só a cabeça. Se alguém fala de problemática, rimos, brandimos a solucionática, mas não sabemos o que é isso. Na escola, rechaçamos os professores mais exigentes, pedantes cobradores da aprendizagem, fazemos abaixo-assinados para removê-los. Na mesma linha, criticamos os alunos mais dedicados. Destoam da vulgaridade.
Nosso gesto perpetua a desinformação, gera desinteresse pela atualidade, alheia-nos da evolução. Em última análise, cortejamos o subdesenvolvimento. Graças à cultura do fácil, tornamo-nos incapazes de discutir, refutar, propor, identificar mentira e manipulação, ter opinião própria, cobrar direitos, ser cidadãos. Resultado: assumimos, há tempos, complexo de inferioridade frente ao mundo, justificado pelas nossas tão alardeadas ignorância, despreparo, incompetência e corrupção, subprodutos da cultura do fácil. Perdemos nosso amor-próprio. Morremos de nosso próprio veneno, a perpétua louvação da mediocridade.
A cultura da mediocridade leva à mediocridade da cultura. Dito de outra maneira, passamos a acreditar que a excelência não pode existir no Brasil. Assim, nossos padrões de aferimento devem vir de fora. Se o produto ou trabalho é estrangeiro, a priori é bom, mesmo que mereça o lixo. Se o médico ou o economista tem fama em Nova York, dando ou não razão à canção que Sinatra consagrou, então, nós os tratamos como divindades. O mesmo vale para filmes