A crítica à abstração e à representação no imaterialismo de Berkeley
A crítica à abstração e à representação no imaterialismo de Berkeley
Maria Adriana Camargo Cappello doutoranda na Universidade de São Paulo
resumo O presente texto tem por objetivo examinar as relações existentes entre a crítica às idéias abstratas, apresentada por Berkeley na “Introdução” ao Tratado sobre os princípios do entendimento humano, e a argumentação desenvolvida nos primeiros parágrafos da
Parte I do mesmo texto, em que o autor propõe seu imaterialismo. A hipótese levantada a partir de tal exame defende uma relação direta entre o nominalismo de Berkeley e o caráter inaceitável, para o autor, da distinção entre o ser e o aparecer da matéria postulada pelas teorias da representação. palavras-chave idéias abstratas – nominalismo – imaterialismo – representação
Berkeley denuncia, na “Introdução” ao Tratado sobre os princípios do conhecimento humano (BERKELEY, 1979), os maus usos da linguagem que teriam como conseqüência muitos dos erros cometidos pelos “sábios”. Com efeito, o maior desses erros seria o da postulação de uma natureza das coisas distinta de sua percepção, erro que, por sua vez, seria sustentado por um pressuposto equivocado em relação aos termos gerais da linguagem.
Berkeley trata desse tema a partir das considerações sobre as idéias abstratas presentes no Ensaio sobre o entendimento humano de Locke (1979)
– cujas citações são literais nos Princípios –, posicionando-se diante da questão sobre se a generalidade seria uma propriedade das idéias ou uma relação estabelecida pelos termos da linguagem. Berkeley – e, depois dele,
Hume (2000) – apóia-se na constatação de que, para que uma idéia pudesse ser geral, ou seja, para que ela fosse uma representação abstraída
Recebido em dezembro de 2004.Aceito em janeiro de 2005. doispontos, Curitiba, vol. 1, n. 2, p.57-73, jan/jun, 2005
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de várias idéias particulares, seria preciso que ela separasse o inseparável, ou seja, que ela separasse cada quantidade ou