A criticidade como fundamento do humano
A aula em foco.
A criticidade como fundamento do humano
J.F. Regis de Morais
No século XIX, Marx e Engels ofereceram uma extraordinária angulação do conceito de ideologia. Procurava-se questionar em que medida o que parecia consciência do real era consciência falseada por processos histórico-sociais; ou, em que medida era a consciência geral manipulada por setores ou classes que dominavam as relações sociais.
Segundo o filósofo brasileiro Antônio J. Severino (1986, p.3) Marx e Engels desempenharam um papel historicamente importante pois a teoria marxista da ideologia assume um lugar referencial tanto do ponto de vista histórico quanto do ponto de vista epistemológico, na longa história da formação e do desenvolvimento do conceito.
Marx em um dos seus escritos sobre religião diz que o homem religioso é um ser acorrentado e quase imobilizado; no entanto, suas correntes estão de tal modo enfeitadas com flores e ramagens que ele, com uma agradável fisionomia de alívio, jura a si mesmo que está em um jardim. Com isso Marx está nos dizendo que interessava a outros seres humanos acorrentarem seu semelhante e, mais do que mantê-lo acorrentado, interessava-lhes ornamentar as cadeias a ponto de obterem uma submissão “feliz”. Entendemos, então, que na concepção marxista, a ideologia é um expediente pelo qual muitas vezes se transforma atitude pensante em construção de ilusões que favorecessem o domínio de determinado setor ou classe social: é uma mexida na representação do real, que promove os interesses de alguns numa espécie de modo comum de percebê-lo e pensá-lo.
O presente século percebeu a existência dessas manipulações, nas quais massas humanas inteiras “embarcavam”. A conselho também de Nietzche viu-se a necessidade de praticar intensamente a “arte da desconfiança”, o que exigia o maior desenvolvimento possível do senso crítico. Após tantas manipulações das representações coletivas do real, que levaram a bárbaros conflitos