A crise da saúde pública
Nos anos recentes vem se expressando, por toda parte, um sentimento de que os problemas de saúde estão se acumulando e os modelos assistenciais não conseguem mais responder às expectativas das pessoas e às necessidades da sociedade. Junto com o desemprego e a violência, a questão da saúde sempre aparece com destaque entre as preocupações identificadas como prioritárias, quando são realizados levantamentos nos diversos grupos populacionais.
Os meios de comunicação expõem, diariamente, as limitações e mesmo absurdos que se acumulam no atendimento prestado pelos serviços de saúde, enfatizando os dramas individuais e colocando em questão sua função social.
Este sentimento de crise parece particularmente paradoxal quando se considera, por um lado, o impacto que os modelos de atenção à saúde, individual e coletiva, apresentaram neste século, resultando no aumento progressivo da duração média da vida, em níveis inéditos na história, compreendendo ainda uma extensão lenta, mas sempre continuada do acesso a cuidados médicos e condições de saneamento para muitos grupos populacionais até então excluídos.
Por outro, registramos o potencial de desenvolvimento científico e tecnológico das práticas de atenção à saúde, possibilitado pelas recentes e revolucionárias transformações nas ciências bio-médicas, a partir da generalização da aplicação da engenharia genética e da informática.
Apesar destes avanços sociais, tecnológicos e científicos, a constatação de que a crise da saúde é concreta se impõe. Isto nos obriga a analisarmos suas atuais características, determinantes e possibilidades de desdobramento, a partir de uma perspectiva que não reduza a complexidade do problema apenas ao fracasso do atual modelo assistencialista.
Quanto às suas dimensões, ou modos de expressão, podemos destacar, além da financeira, que é sempre a mais discutida, a redução da resolutividade das práticas. Isto nos remete às expectativas das pessoas em relação à saúde,