A Crise Americana e a Resposta da Teoria Econômica: há algo de novo no horizonte?
Introdução
A crise americana, que se inicia como uma crise de caráter nacional focalizada no mercado financeiro, mais especificamente hipotecário, logo mostra que as coisas haviam mudado muito no novo mundo marcado pela desregulamentação, dessegmentação e globalização (Plihon, 1995). Um problema focado rapidamente se espalhou por todo o mercado financeiro e mostrou a fragilidade das pirâmides construídas sobre inovações financeiras que foram amplamente permitidas e estimuladas por um padrão de regulamentação calcado na perspectiva do poder auto-regulador do mercado, que assumia a eficiência do mesmo. A crise ganhou dimensões globais tendo efeitos significativos sobre as diversas economias integradas pela globalização. Mais do que a crise e seus efeitos, o momento presente chama a atenção para as construções teóricas de um ramo específico das ciências sociais: a economia, que pouco a pouco foi se distanciando de suas origens, enquanto ciência social, e foi construindo um arcabouço teórico híbrido que lhe dava uma aparência de neutralidade e procurava alinhá-la às ciências exatas, de natureza mais dedutivista e abstrata1.76.A crise tem a vantagem de mostrar, de forma clara, o divórcio da ciência econômica do seu objeto, ou seja, a realidade material da sociedade e as formas como ela se reproduz também materialmente, e a necessidade de se buscar dentro daquela a reaproximação com o seu objeto de forma a que não estejamos, enquanto formuladores de teorias, com alguma preocupação com a realidade, construindo apenas jogos e desafios lógico abstratos.
Este artigo procura observar a crise e sua relação com a teoria econômica, menos focando nos aspectos específicos da crise e mais associando
*75 Professora do Departamento de Economia da Universidade de Brasília e Pesquisadora do CNPq.
176 Para este ponto é interessante retomar as ideias de Dow, 1985.