A construção sociológica do espaço rural
Introdução
O presente artigo debruçar-se-á sobre os vários modos de categorizar o espaço rural tendo como referência a oposição/relação estabelecida com o urbano. Na verdade, com o desenvolvimento da industrialização, a organização da sociedade começou a ser interpretada por vários autores, a partir da formulação de conceitos que pretendiam caracterizar cada um destes "mundos".
Uma das conceptualizações mais clássicas do pensamento sociológico deve-se a Ferdinand Tönnies (1989 [1887]) que propõe a oposição entre comunidade e sociedade e que ilustra o tipo de interpretação sociológica que se construiu nos finais do século XIX e influenciou decisivamente os estudos sobre o rural e o urbano realizados ao longo do século XX.
Assim, no entender de F. Tönnies, a comunidade é definida a partir da noção de harmonia social na qual dominam as relações de afetividade e de intimidade que confluem para o interesse e permanência da coletividade, a qual, por sua vez, se reproduz através da conjunção entre tradição e natureza. A sociedade, em contrapartida, fomenta o individualismo e o conflito social, através de relações essencialmente utilitárias e aparentes que inviabilizam a pertença a qualquer noção coletiva de "bem comum". Com base nesta definição, facilmente se estabelece uma correspondência linear entre meio rural e comunidade, por um lado, e entre meio urbano e sociedade, pelo outro.
A estipulação desta oposição conceptual inaugura, a matriz analítica sobre as questões rurais e urbanas. Podemos referir que a análise sociológica elaborou um esquema de raciocínio binário a partir do qual definiu cada uma destas realidades sociais por oposição à outra. Como iremos ver, os estudos realizados nos finais do século XIX e nas primeiras décadas do século XX concebem uma visão dualista da sociedade na qual o meio urbano representa a modernização e como tal é o centro da sociedade, por oposição ao espaço