A conquista da América - A questão do outro
Inicialmente, Todorov contrapõe as causas usualmente apresentadas para explicar a conquista a argumentos igualmente conhecidos. Assim, a superioridade das armas espanholas pode ser contestada a partir da sua pequena quantidade, como também pelo fato de que Montezuma contava com um exército infinitamente maior sob o ponto de vista numérico. Por outro lado, o autor também considera significativo para o entendimento da conquista a facilidade com que Cortez estabeleceu alianças com os povos submetidos à Confederação asteca - o que pode, na sua opinião, ser entendido a partir do fato de que a postura dos conquistadores espanhóis diante destes povos não diferia muito daquela adotada pelos próprios astecas. Igualmente, observa que a guerra asteca, além de seu caráter ritual, buscava estabelecer acordos tributários - não podendo jamais abarcar o caráter totalizante da guerra espanhola.
Porém, para Todorov, estes aspectos devem ser somados a outros, de caráter mais sutil mas igualmente importantes para a compreensão do que aconteceu ao longo do episódio da conquista. Neste sentido, seu principal argumento é de que os espanhóis triunfaram porque tinham um domínio superior da linguagem que se estabeleceu a partir do encontro entre europeus do século XV e povos mesoamericanos. Os espanhóis teriam se mostrado superiores na primeira categoria, enquanto que os astecas - que davam preferência para a segunda - se viram confusos.
Partindo desta hipótese, o autor procura demonstrar como esta dificuldade de comunicação - e as causas culturais que a originaram - se fez presente ao longo de todo o processo da conquista.
Neste aspecto, a importância do passado na cultura asteca vai se revelar um fator preponderante, tanto no que respeita à reação asteca diante da chegada de Cortéz à região, como para determinar o tipo de linguagem por eles adotada.
O mundo dos astecas - e das sociedades mesoamericanas em geral - era