A confissão
Autor Flávio Carneiro
Ele a sequestrou a fim de lhe contar a história da sua vida. Usou clorofórmio para fazê-la adormecer quando a abordou em seu carro, durante a noite. Assim, levou-a para sua casa e prendeu-a em uma poltrona, retirando a mordaça depois que ela acordou. Ele a tratava com certa delicadeza, chamando-a de senhora e querendo saber sua opinião sobre os fatos que narrava.
Nessas circunstâncias, ele começou a narrar sua vida. Era um rapaz pobre, solitário e até mesmo medroso. Vivia do roubo de livros. Roubava livros de bibliotecas e livrarias para depois vendê-los nos sebos.
Vez ou outra tinha um cliente, como foi o caso de um senhor que lhe encomendava livros e comprava todos, mesmo não sendo os que ele tinha pedido. Com o dinheiro que ganhava, pagava o quarto na pensão miserável onde vivia e se alimentava. Muitas vezes passava fome, mas já sabia lidar com ela. Tinha o hábito de ir ao cinema e também gostava de tomar vinho, mesmo não tendo paladar para isso.
Foi por esse motivo que conheceu sua vítima, ele a viu em um restaurante de luxo, ela não o viu. Ele suplicou com os olhos que ela o ensinasse a apreciar vinhos como ela fazia naquele instante. Mas ela estava alheia ao mundo fora do restaurante. Era uma mulher rica, não reparava em rapazes pobres da rua. Naquele dia, ele pensou que a mataria.
Um dia voltando do cinema, viu uma moça no ônibus, Emma, ela carregava duas garrafas de vinho e lhe chamou extremamente a atenção. Pela pele da nuca, que era o pouco do corpo dela que ele podia ver, deduziu sua idade. Quando ela desceu, ele a seguiu sem que ela percebesse. Assim, ele a viu tocar a campanhia de um sobrado. Uma luz se ascendeu no piso superior e, segundos depois, alguém abriu a porta, pegou as garrafas e entrou, Emma o acompanhou. No dia seguinte, ele fez o mesmo caminho da noite passada, mas para sua surpresa o sobrado era um prédio abandonado, não havia nem mesmo uma janela no segundo andar.
Mas ele teve outro encontro com