A Condição Humana
Hannah Arendt
As atividades humanas estão imbricadas na vida em sociedade. Entretanto, de todas as atividades humanas, a ação é a única que só tem sentido dentro do contexto social. O pensamento grego estabeleceu a distinção entre a organização política e a organização natural, social do homem para satisfazer suas necessidades básicas de sobrevivência. Segundo esta análise estas são formas opostas de organizações. Nesse sentido, o homem tinha além da vida privada, a vida política. No âmbito da casa, o homem se organiza para satisfazer suas necessidades biológicas e tem como centro a casa e a família e na ação a sua atividade humana mais fundamental. Na pólis, a ação e o discurso são atividades independentes. O homem que têm atendidas as suas necessidades básicas, pode ser elevado ao nível do discurso. Assim, a ênfase passou da ação para o discurso, este último como meio de persuasão.
Hannah Arendt recorreu aos clássicos para compreender a divisão entre público e privado. Nestes havia uma rígida divisão entre o que pertencia ao âmbito da casa e era, portanto doméstico, e o que pertencia ao público, tendo dimensões políticas. Essa rígida separação provocou distorções, onde o privado, por exemplo, não poderia ser tema do político.
Na perspectiva histórica, o surgimento da cidade-estado pode estar atrelada a esfera privada. Entretanto, o limite que se estabeleceu entre a propriedade e a pólis, não permitindo que esta última ultrapassasse os limites da esfera privada foi concepção de que o homem só poderia participar da esfera pública se tivesse a propriedade e atendidos nela suas necessidades. Nesse sentido, a vida na esfera privada, no âmbito da família era destinada a atender as necessidades mais básicas, biológicas. Tendo superado esta satisfação, o homem estava “liberado” para a vida na pólis, para usufruir da liberdade na pólis. A liberdade é, portanto, a condição fundamental que requer e justifica a limitação da autoridade