A civilização dos brancos: os debates sobre a abolição da escravatura e a utilização da mão-de-obra imigrante no brasil do século xix.
Rosa Maria Ferreira da Silva(
Resumo. Este artigo se propõe a apontar os debates que articularam a abolição da escravatura e a substituição do braço escravo pela mão-de-obra livre, no Brasil. Para tanto, apoiou-se em uma historiografia de orientação marxista e perseguiu a questão a partir da inclusão da economia brasileira nos quadros da economia capitalista do século XIX. Dentro desta perspectiva, retoma os debates abolicionistas e a opção final, feita pela então província de São Paulo no sentido de arregimentar o braço imigrante, para substituir o negro escravo e “branquear” a população brasileira. A título de conclusão, procura demonstrar os sentidos assumidos pelo projeto republicano paulista face à política de imigração.
1. Considerações Iniciais
A Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel aos 13 de maio de 1888, declarou livres todos os escravos do Brasil. No entanto, se assistimos à extinção legal da escravatura, os 118 anos que nos separam da Abolição não foram suficientes para se abolir em nosso cotidiano as intensas contradições sociais, das quais o preconceito étnico é conseqüência. Sem dúvida, o fim do preconceito é resultado de um processo que ainda está sendo construído e, justamente por isso, a realidade brasileira nos exige a todo o momento, intervenções políticas concretas com vistas à sua transformação. Contudo, a intervenção política (que, ressalte-se, não é meramente partidária) requer, por sua própria natureza, a consciência histórica de um outro processo: aquele que instaurou o nosso presente. Para tanto, é mister perceber que a abolição do braço escravo no Brasil e sua substituição pela mão-de-obra imigrante não foram atos isolados: ao contrário, inserem-se dentro de um contexto sócio-econômico específico e articularam-se política e ideologicamente, ao projeto republicano de nação