A cinderela Negra
Peter Fry
A CINDERELA NEGRA
“A estudante Ana Flávia Peçanha de Azeredo, negra, 19 anos, filha do governador do Espírito Santo, segurou a porta do elevador social de um edifício em Vitória enquanto se despedia de uma amiga. Em outro andar, alguém começou a esmurrar a porta do elevador. Ana Flávia decidiu então soltar a porta e, depois de conversar mais alguns instantes, chamou o outro elevador, o de serviço. Ao entrar nele, encontrou a empresária Teresina Stange, loira, olhos verdes, 40 anos, e o filho dela, Rodrigo, de 18 anos.[...] Segundo Ana Flávia contaria mais tarde, Teresina foi logo perguntando quem estava prendendo o elevador. ‘Ninguém’, respondeu a estudante. ‘Só demorei um pouquinho.’ A empresária não gostou da resposta e começou a gritar. ‘Você tem de aprender que quem manda no prédio são os moradores, preto e pobre aqui não tem vez’, avisou. ‘A senhora me respeite’ retrucou a filha do governador. Teresina gritou novamente: ‘Cale a boca. Você não passa de uma empregadinha.’ Ao chegar ao saguão, o rapaz também entrou na briga. ‘Se você falar mais alguma coisa, meto a mão na sua cara’, berrou. ‘Eu perguntei se eles me conheciam e insisti que me respeitassem’, conta Ana Flávia. Rodrigo ameaçou outra vez: ‘Cale a boca, cale a boca. Se você continuar falando meto a mão no meio de suas pernas’. Teresina segurou o braço da moça e Rodrigo deu-lhe um soco no lado esquerdo do rosto. [...] A polícia abriu um inquérito a pedido do governador. Se forem condenados [Teresina e Rodrigo], os dois podem pegar de um a cinco anos de cadeia” (Veja, 7 de julho de 1993).
AS PERSONAGENS DESCRITAS E CLASSIFICADAS
As várias personagens são descritas primeiro pelo articulista (anônimo) e segundo pelas próprias personagens através do narrador. Ana Flávia aparece primeiro como “estudante, negra, 19 anos, filha do governador do Espírito Santo, Albuíno Azeredo”, (p. 66). Mais tarde no