A Ciencia e o Homem
O tema que me foi proposto pode ser encarado de vários ângulos. O que a ciência tem feito pelo homem é um deles. Outro poderia ser o efeito da ciência sobre as atitudes gerais do próprio homem, desde que passou a raciocinar cientificamente. Outro ainda, o que a ciência poderá ter feito contra o homem, criando meios de destruição física e por vezes abalando conceitos religiosos profundamente entranhados em sua alma. E muitas outras variações poderíamos imaginar.
Procuraremos seguir um caminho, por assim dizer, médio entre as várias trilhas apontadas. Não podemos fugir a uma consideração, que parece até paradoxal, a de que as palavras científico e humano trazem em si uma espécie de oposição, pelo menos para grande número de pessoas. Haveria até uma rivalidade fundamental entre ciência e humanidade. Muitos vêem na ciência um empreendimento essencialmente anti-humano, seja pelo apego ao rigor dos fatos, que não raro parece reduzir o cientista a um indiferente catalogador de fichas e criador de hipóteses destituídas de sentimento; seja pelas aplicações perversas que alguns princípios científicos encontram em mãos políticas; seja ainda pelo velho fosso que se criou entre o que geralmente se chama de humanismo e o que geralmente se chama de ciência.
Mas a oposição entre o humano e o científico, como bem demonstra Bronowski, é historicamente falsa. O humanismo penetrou o nosso mundo, e começou a moldá-lo, no Renascimento, lá pelo século XV. Embora esse Renascimento seja particularmente lembrado por suas relações humanistas, na literatura, nas artes, na arquitetura, teve ele uma segunda face, bem reconhecida hoje pelos especialistas. Naquela época surgiu também o que se chama de Revolução Científica. É o que ensina um eminente historiador, Butterfield. Ao mesmo tempo que se procurava recuperar o conhecimento acumulado na Antigüidade, vinha o impulso para a descoberta de conhecimento novo. O primeiro movimento tratava de cultivar os clássicos e