A cidade do pensamento unico
No primeiro estudo, de autoria de Otília Arantes, o leitor encontrará um quadro histórico do urbanismo depois dos Modernos, especialmente dos anos 70 ao final do século, período coberto pelo menos por duas gerações urbanísticas, cuja evolução a autora acompanhará do ângulo mais especifico do papel desempenhado pela Cultura na produção das cidades ao longo dos últimos trinta anos. Lida pois com um dos grandes paradoxos ideológicos do nosso tempo, ou seja: a centralidade da Cultura num processo comandado cada vez mais pelo Capital. Periodizando este arranjo inédito, Otília Arantes destaca a convergência objetiva de dois modelos de produção de uma nova configuração urbana, a cidade-empresa-cultural: um americano e outro europeu (aliás originalmente parisiense). Mesma convergência involuntária entre as duas gerações urbanísticas que até então se imaginavam contrapostas, a dos contextualistas e a dos empreendedores, e uma assimilação a tal ponto integral que já não é mais possível distinguir dissidentes e integrados. Outra novidade de época assinalada pela autora, porém, para melhor demonstrar que o atual "pensamento único" das cidades não é uma fatalidade da hegemonia global.
Tais fatalidades se fabricam, como mostrará Carlos Vainer nos dois ensaios seguintes. Para o autor, esta via de mão única que, entre outras designações, também atende pelo nome de Planejamento Estratégico Urbano, transpõe para o espaço urbano os conceitos e metodologias do planejamento estratégico empresarial, elaborados originalmente na Harvard Business School. Do que resulta um projeto de cidade paradoxalmente articulado por três analogias constitutivas: a cidade é uma mercadoria; é uma empresa; enfim é uma pátria, entendamos uma marca com a qual devem se identificar seus usuários, cuja fidelidade ao produto, vendido como civismo, requer algo como o exercício bonapartista do poder municipal. Nunca se falou tanto em polis, mas o autor sugere que se chame as coisas