A CIDADE DE DEUS
Mário Cabral, S. Jorge, III CICLO AGOSTINIANO – AÇORES: De 13 a 16 de Janeiro de 2005
Cidadania e Ambiente no Pensamento de Agostinho da Silva
(de Interesse Público por despacho de 27.12.2004 do Sr. Vice-presidente do Governo Regional, em representação de Sua Excelência o
Presidente Regional dos Açores)
A
obra inteira de Agostinho da Silva pode ser classificada com base na oposição estabelecida entre aquilo que poderíamos chamar de «civilização ou a cidade dos homens» e «cultura ou a cidade de Deus».
Na cidade dos homens, protótipo civilizacional, predomina a ciência, baseada na razão epistemológica, com raiz grega, último resultado da filosofia e motivo para a economia capitalista, através da técnica, mundividência burguesa.
Na cidade de Deus, protótipo cultural, predomina a religião, com raiz cristã, no caso ocidental, onde a afectividade e o saber do coração são o motivo da confiança cósmica, que leva à doação de si até ao sacrifício.
Há um entusiasmado contraste estabelecido entre as sociedades civilizadas, ou decadentes, e as comunidades cultas ou saudáveis; de notar que usei diferentemente dois conceitos que é costume tomar por sinónimos: sociedade e comunidade. As consequências sócio-políticas serão de monta.
A forte defesa, por vezes ingénua, do “bom selvagem”1, em contraponto com o mundo contemporâneo ocidental, nunca atinge, porém, o ponto de cegar o autor no que respeita à esperança depositada na revolução tecnológica que, no seu entender, funcionará como uma espécie de redenção da queda em que se encontra a Humanidade, espécie de círculo que se fecha e rosto que se encontra depois de se ter perdido.
Não se trata tanto de um processo histórico único, com uma única queda e uma redenção única, num avanço cronológico irrepreensível – outrossim de algo parecido com um pêndulo ondulatório, observando-se já no passado diversas épocas de referência, bem como exemplos vários a deplorar: pureza das sociedades