a chuva de bonecas
Nove e meia da noite. O ar fresco dá lugar a uma tempestade. A entrada ainda não havia sido liberada. Do lado de fora, a fila fazia volta no quarteirão. E não adiantava encostar-se à parede para proteger da chuva. Desesperados, os fãs batiam forte nas portas metálicas fechadas da Feira da Estação, o que ecoava no pátio vazio e gerava um barulho ensurdecedor. A impressão é a de que a qualquer momento a horda de fãs molhados e indignados iria adentrar o espaço derrubando portas e paredes.
Alguma coisa não estava dando certo. Os técnicos mexiam, avaliavam, pensavam. Nunca vi equipamentos serem testados tantas vezes. Enquanto os fãs curtiam uma chuva impiedosa, o ônibus d’O Teatro Mágico entrou e estacionou atrás do palco.
Quando me aproximei, quem estava por ali vestida com roupa de ginástica e ar preocupado era Gabriela Veiga, a boneca dos tecidos. Ela cumprimenta a todos com voz doce. Mesmo sem a delicada maquiagem de boneca feita com pasta d’água e o figurino colorido, ela é meiga, suave.
- Mas até à hora do show vai estar tudo certo, né?
A preocupação é com a estrutura metálica onde estão amarrados o tecido acrobático e o trapézio onde Gabriela, ou Gabi, mostra toda sua arte e suavidade. Nos shows, enquanto a voz de Fernando Anitelli entra pelos ouvidos, a boneca enche os olhos dos fãs, provoca suspiros. Ela é a própria encarnação da bailarina, namorada do soldadinho de chumbo. Mas se engana quem pensa que a delicadeza é fraqueza.