A causa secreta
Estrutura-se o trabalho em questão em torno do conto A Causa Secreta, publicado em 1885, de autoria de Joaquim Maria Machado de Assis, autor considerado o maior expoente do Realismo brasileiro e o maior nome da literatura nacional. O conto, alicerçado na conduta sádica e tétrica de Fortunato, apresenta o brilhantismo machadiano característico através de sutis indicações da crueldade do personagem, culminando no desfecho com o epítome de sua índole. A análise da obra e precipuamente da postura do protagonista permitem a associação com elementos de estudos reconhecidos de ícones da filosofia e campos adjacentes de estudo comportamental humano, ressaltando a amoralidade, a dissimulação e o maniqueísmo não raro presentes nas manifestações explosivas de conduta.
2. Virtuosismo platônico e justo meio aristotélico
A regência da obra dá-se, desde seu início, pela compreensão do comportamento progressivo de Fortunato, desenrolando-se primeiramente controverso, na medida em que manifesta desprendimento e infâmia, ao que atesta o socorro ao enfermo Gouveia e o escárnio frente a sua gratidão. Progressivamente, a concretude de sua vileza se desvela com a prática anatômica brutal em animais, cujos sofrimentos eram-lhe a recompensa que recebia pela devoção aos combalidos da casa de saúde montada com o amigo Garcia. O clímax é indubitavelmente atingido com a tortura inclemente do rato que invade seu escritório, justificada precariamente quando surpreendida pelo colega já assíduo em sua casa e esmiuçada por Machado a fim de condenar de forma mordaz a antecedente caridade hipócrita.
O procedimento do personagem é confrontante a duas vertentes valorosas do pensamento filosófico, a saber: a aptidão para a virtude defendida por Platão e o exercício do justo meio apregoado por Aristóteles. Para o primeiro, as faculdades humanas para o aprimoramento da areté, da chamada “excelência ética, o ser bom” (CHAUÍ, Introdução à história da filosofia, 1994, p.218), são