A Casa Nossa - quando a arquitetura e a psicologia se relacionam
Por Sílvia Rocha
Para a psicologia, a casa representa o ser humano em seus elementos mais fundamentais, em sua essência; de certa forma, é a pedra angular de sua personalidade. A representação de uma casa leva em conta as interações entre a natureza e a cultura, entre o inato e o adquirido, entre o indivíduo e a sociedade. Em sua obra Le dessin dune Maison: image de ladaptation sociale de lenfant, J. Royer afirma que a casa constitui um arquétipo dos mais complexos e, por isso, mais difíceis de interpretar. Para esse autor, a casa é o símbolo de todas as "peles" sucessivas que nos envolvem – o seio materno, corpos, família, universo – e vão se encaixando e modelando. É o termo mais carregado de ressonância afetiva, mais capaz de desencadear lembranças, sonhos, paixões: a casa da infância, a casa da família, a casa das férias, a casa dos sonhos matrimoniais, a casa de retiro, a última moradia.
Cada uma de nossas casas possui seus cheiros, corredores e portas (secretos ou não), espaços, recantos, culinária, ruídos e silêncios, fogos e águas, luzes, penumbras assustadoras ou propícias à reflexão e aos desabafos. A imagem da casa, alegre ou não, nos acompanha ao longo de nossa vida.
No artigo “A casa: cultura e sociedade na expressão do desenho infantil”, Sonia Grubits expõe de forma primorosa como esse arquétipo, ligado a nossa segurança, amores, posses, status social, está inscrito tão profundamente em nós, até em nossa parte primitiva e animal, como a concha para o caracol ou o casco para o jabuti. No curso de sua evolução, a habitação foi submetida a admiráveis transformações. A autora rememora que, inicialmente escondido em grutas naturais, o homem foi pouco a pouco personalizando sua habitação troglodita, acumulando tesouros e projetando suas fantasias na decoração das paredes.
Há milênios a casa é aquecida, iluminada, mobiliada e decorada, relacionando paralelamente conforto e