A cartomante
RESUMO: As escolhas são parte da vida de cada homem ou mulher. A discussão proposta em nossa pesquisa revela uma caminhada pelo cotidiano, em que as escolhas guiam por caminhos indeterminados, tornando a vida inesperada e surpreendente. O trabalho terá como objeto a narrativa “A cartomante”, de Machado de Assis, centrando-se mais especificamente na construção do amor e a traição. Na presente abordagem o autor revela o amor como incontrolável e suas consequências também, assim, a traição e o amor estariam interligados. A culminância inesperada, na raiz articulatória do discurso machadiano, remete ao modelo de composição do escritor, que indica uma construção ligada à ruptura das estruturas mais gerais do discurso. Nele, o leitor é guiado pela aventura do amor, porém os questionamentos são milimetricamente arquitetados na base da narração, até que este se depara com o inesperado, passível de acontecer em qualquer cotidiano, os laços desfeitos e o desfecho fatal. Na construção machadiana o percurso pela traição ocorre pela ruptura, pela confrontação dos limites, com personagens que parecem imersos em suas vidas, expondo os medos e com eles se confrontando, pois o amor é capaz de salvar, tal qual a adivinhação, ainda que as crenças não sejam tão eficazes. Amor, traição e amizade são os temas que configuram o conto, contornados por uma maestria do narrar e pelo perfeccionismo descritivo, os quais consolidaram Assis como um marco da literatura brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: Machado de Assis. Traição. Amor.
Introdução
Os olhos continuaram a dizer coisas infinitas, as palavras de boca é que nem tentavam sair, tornavam ao coração caladas como vinham... (ASSIS, 1994, p.14)
A construção dos olhares infinitos de Dom Casmurro (1994), e das palavras mudas, revela como os sentidos da narrativa machadiana podem estar interditos, sem, porém, deixarem de revelar todos os