a carne
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DE PARTO MONSTRUOSO A SUCESSO DE PÚBLICO: ANÁLISE DA RECEPÇÃO
CRÍTICA DE A CARNE DE JÚLIO RIBEIRO.
Sarah Maria Forte DIOGO
Universidade Federal de Minas Gerais sarahfortebr@hotmail.com Resumo:
Este artigo analisa A Carne (1888) de Júlio Ribeiro. Objetiva-se discutir o naturalismo desta obra, sua aclimatação ao Brasil e o processo de construção do cânone naturalista que coloca este romance como exemplo de inferioridade. Para tanto, examinamos parte da recepção crítica de A Carne, com a releitura de ensaios de críticos do século XIX e do século XX que contribuíram para a formação do cânone literário brasileiro. A Carne, em geral, surge em notas de rodapé ou apenas como indicação de livro fracassado. O resultado da investigação aponta que parte dessa recepção crítica deixou escapar as especificidades do texto, em especial seu naturalismo que parece romper com os moldes da escola francesa. Em virtude de leituras restritivas, o livro de Júlio Ribeiro entrou para o cânone literário como obra menor e defeituosa, legitimada, sobretudo, pelo sucesso de público, haja vista inúmeras edições e adaptação cinematográfica. Acreditamos que a narrativa em questão pode e deve ser analisada como romance que interage com o modelo francês, produzindo uma ficção que, apesar de problemas estéticos, apresenta as escolhas artísticas de um autor brasileiro entre romantismo e naturalismo, em busca de uma forma de expressão naturalista, a fim de integrar-se ao cânone ocidental. Palavras-chave: Júlio Ribeiro; Naturalismo; Recepção.
1 Um livro inexistente
“Para a literatura, êste livro [A Carne] não existe” (LINS, 1963, p.217).
Álvaro Lins, atuante crítico literário da década de XX, analisa em “Júlio Ribeiro: hors de la littérature...” o romance A Carne e decreta sua expulsão compulsória da literatura brasileira, haja vista a série de problemas estéticos e temáticos que o texto apresentaria. Lins caracteriza o livro como