A CABANA
Matas Temoratas: resistência e medo na Guerra dos Cabanos
(Alagoas – Pernambuco/ 18321-1850)
Janaina Cardoso de Mello 1
“Panelas por cujo interior se derramavão os desgraçados rebeldes, hé hum território de inaccessíveis montanhas, e coberto de gigante arvoredo; poucos homens praticos d’aquelles lugares, grimpando pelos outeiros, fazem repentinamente fogo estragador sobre os nossos caçadores e fogem por pequenos e quaze intranzitaveis trilhos”.
(Ofício do Governo de Pernambuco ao Ministro do Império Nicolau Pereira de Campos Vergueiro em 1º /11/1832) 2
Entre 1832 e 1835, as matas ao sul de Pernambuco e ao norte de Alagoas abrigaram o movimento rural denominado cabanada. Segundo a análise lingüística de
Dirceu Lindoso: “cabanos eram os que habitavam cabanas da mata, que era um espaço de exclusão social do sistema sesmeiro escravista imperial”. 3
Isto posto que a economia exportadora dos grandes engenhos canavieiros baseada na exploração da mão-de-obra de negros escravos, lavradores moradores caboclos e índios implicava na caracterização dos fazendeiros como “senhores e possuidores de terras”, expressão utilizada por Márcia Motta ao compreender que:
“para os fazendeiros, a questão não se colocava em termos do acesso à terra, mas sim na dimensão do poder que eles viriam a exercer sobre quem não a detinha. A existência de matas virgens significava a possibilidade de extensão deste poder: o fazendeiro ou uma ampla camada de lavradores poderiam vir a ocupa-las, permitindo a consolidação de pequenos posseiros também ansiosos por assegurar e legitimar de algum modo a posse de suas terras. Para o fazendeiro, portanto, disputar uma nesga, uma desprezível fatia de terra significava resguardar seu poder, impedir que terceiros viessem a reivindicar direitos sobre coisas e pessoas que deviam permanecer, de fato ou potencialmente, sob seu domínio”. 4
Nas matas incultas que se