A bolsa e a vida, jacques le goff
Entre o dinheiro e o Inferno: a usura e o usurário pp.9-15
Nesta primeira parte do livro, Le Goff faz uma pequena introdução ao restante da obra. A questão da usura é levantada tendo-se em conta um dos maiores dilemas cristãos: a agonia do medo do Inferno.
Jacques Le Goff é um dos maiores autores da chamada Nova História, corrente da historiografia que tem como foco metodológico as formas de representação coletiva das sociedades e de suas estruturas mentais, cabendo ao historiador a análise e interpretação desses dados. Dessa forma, a maior parte das fontes escolhidas por Le Goff não estão nas sumas teológicas dos grandes pensadores escolásticos, mas sim nos exempla, pequenas narrativas, supostamente verídicas, que integravam os sermões medievais. Como aponta o próprio Le Goff, o sermão na Idade Média é a grande mídia que atinge, em princípio, todos os fiéis (página 13).
A grande questão da obra é apresentada logo nas primeiras linhas do capítulo. O usurário é o embrião do capitalismo, e sua situação na Idade Média passa da grande repulsa à criação do Purgatório, a garantia do acesso ao Paraíso até mesmo para os grandes pecadores.
A bolsa: a usura pp.17-32
Nos primeiros momentos deste capítulo o autor procura as definições de usura para o homem medievo. Como ele mesmo escreve: “a usura designa uma multiplicidade de práticas entre o lícito e o ilícito nas operações que admitem juros” (p.17). Como observa Le Goff, a usura não se trata da cobrança de qualquer juro, assim como não deve ser confundida com o lucro, “a usura intervém onde não há produção ou transformação material de bens concretos” (p.18).
A usura era reprovada tanto por argumentos religiosos quanto por argumentos laicos. Por viverem em uma sociedade extremamente religiosa, os homens medievais tendiam a procurar a solução para seus dilemas na Bíblia. Porém, as Escrituras freqüentemente se