A BIBLI A ARQUEOLOGIA E A HISTÓRIA
José Ademar Kaefer1
Acabo de receber um e-mail de Israel Finkelstein, um dos arqueólogos mais proeminentes da atualidade, no qual ele fala estar vindo de Megiddo, onde esteve durante sete semanas coordenando as escavações. Megiddo é um dos sítios arqueológicos mais importantes de Israel e Palestina, e por isso também um dos mais cobiçados pelos arqueólogos. Nas breves linhas, Finkelstein fala que ele e seu grupo acabam de escavar uma fascinante construção do final do ferro I, o que seria por volta da primeira metade do século X a.C., portanto, nos primórdios do surgimento do reino de Israel Norte. O arqueólogo menciona ainda que numa plataforma elevada da construção foram encontradas duas estelas (mazebot) hexagonais em pé. “Não é preciso dizer que se trata de El e Asherah”2, diz ele.
A pergunta que imediatamente veio à mente, repleta de curiosidade, foi: quem é o autor dessa construção? Ou melhor, quem reinava sobre Megiddo na primeira metade do século X? O que podemos adiantar é que essa descoberta é certamente fundamental para a compreensão do surgimento e a formação de Israel Norte. É igualmente fundamental para compreender o culto e a religiosidade nos primórdios de Israel
Norte, e sua consequente influência sobre a lei em Israel e Judá, pois, no nosso entender, é a primeira vez que estelas desse tipo são encontradas em Megiddo.
Enfim, o mencionado acima mostra a dinamicidade da arqueologia e como um fato pode mudar do dia para a noite o conhecimento que temos sobre a história de Israel e
Judá e suas escrituras. Ficar alheio a elas não é conveniente para um bom estudioso da
Bíblia.
1
Doutor em teologia bíblica pela Universidade de Münster, Alemanha; Professor titular de Primeiro
Testamento do Mestrado e Doutorado em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP); Coordenador do Grupo de Pesquisa “Arqueologia do Antigo Oriente Próximo”
(www.metodista.br/arqueologia);