A banalização da injustiça social
Encontra-se largamente difundida a idéia de ameaça de uma derrocada econômica, que impõe a aceitação de meios drásticos, sob risco de fazer algumas vítimas: situação de guerra “econômica”.
Em nome dessa “justa causa” são usados, no mundo do trabalho, métodos que visam excluir, através de demissão, os que não estão aptos a combater nessa guerra e exigir produtividade, disponibilidade, disciplina e abnegação daqueles que estão aptos.
A “guerra sã” (pela saúde das empresas) justifica remanejamentos, rebaixamento, marginalização ou dispensa, com sacrifícios coletivos impostos e sacrifícios individuais consentidos.
Na “guerra sã” há mais vencidos que vencedores, contudo, os dirigentes insistem em não mudar de rumo por acreditarem que serão os vitoriosos e os outros padecerão.
Por que a máquina de guerra funciona tão bem? Há duas respostas:
Porque a guerra é inevitável e se auto-reproduz em virtude da lógica do sistema, do mercado, estando além da vontade dos homens.
Porque há leis econômicas construídas pelos homens, instituídas, que atendem a interesses de alguns, num cálculo estratégico. E, os que não são “decisores” contribuem para o seu funcionamento ativa ou passivamente.
É necessário concentrar o esforço de análise nas condutas humanas que produzem essa máquina de guerra.
A questão central do livro é: “Quais as motivações subjetivas da dominação? Por que uns consentem em padecer sofrimento, enquanto outros consentem em infligir tal sofrimento aos primeiros?”
Se a maquinaria é poderosa, é porque consentimos em fazê-la funcionar, mesmo quando isso nos repugna!
É por intermédio do sofrimento no trabalho que se forma o consentimento para participar do sistema, que gera, por sua vez, um sofrimento crescente entre os que trabalham.
O sofrimento aumenta porque os que trabalham vão perdendo gradualmente a esperança de que a condição que hoje lhes é dada possa amanhã melhorar.
O sofrimento aumenta com o absurdo