A atualidade de Marx para o debate ambiental
Antônio Inácio Andrioli1
Karl Marx contribuiu decisivamente para o progresso do debate sobre a relação entre economia e natureza, ao interpretar a acumulação capitalista através das suas contradições sociais, ao contrário da concepção clássica liberal, baseada restritamente nas limitações naturais. De acordo com as análises de Marx, a continuidade do modo de produção capitalista, orientado, prioritariamente, pela maximização dos lucros, conduz, tendencialmente, a uma crescente exploração, alienação e expropriação da força de trabalho, por um lado, e, por outro, à deteriorização da base de produção econômica, da fonte da riqueza, ou seja, da natureza. Como esse debate evoluiu no decorrer dos tempos? Qual é a atualidade do pensamento marxiano diante da crise ecológica mundial? É essa a abordagem do presente texto, que se insere no debate teórico e político da obra de Marx e do marxismo contemporâneo.
Ao contrário dos liberais, Marx não concebe a natureza como fonte ilimitada de matérias-primas e nem como recurso gratuito. A natureza não gera valor de troca, porém, ela é a fonte do valor de uso (MARX, 1983a: 58; 1962: 51). Para Marx, os seres humanos e a natureza se encontram numa relação de reciprocidade, conforme descrição nos Manuscritos econômico-filosóficos de 1844:
O ser humano vive da natureza significa que a natureza é seu corpo, com o qual ele precisa estar em processo contínuo para não morrer. Que a vida física e espiritual do ser humano está associada à natureza não tem outro sentido do que afirmar que a natureza está associada a si mesma, pois o ser humano é parte da natureza (MARX, 1968: 516)2.
Uma compreensão semelhante foi publicada por Engels, em 1876, em seu famoso texto O papel do trabalho na transformação do macaco em homem, alertando para a importância da observância racional das leis da natureza:
E assim nós somos lembrados a cada passo que, de forma alguma, dominamos
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