A ascensão da Classe Criativa - Florida
A ascensão da classe criativa e seu papel na transformação do trabalho, do lazer, da comunidade e do cotidiano
Tradução de Ana Luiza Lopes
L&PM EDITORES iii CAPÍTULO 1
A transformação do cotidiano
Alguma coisa está acontecendo, mas você não sabe o que é. Sabe, Mr. Jones? Bob Dylan
I
magine duas situações. Primeiro, vá a 1900, escolha um homem qualquer e leve-o até a década de 1950. Em seguida, escolha um sujeito da década de 1950 e transporte-o para os dias de hoje à la Austin Powers. Quem você acha que sentiria mais a mudança?
À primeira vista, a resposta parece óbvia. Uma pessoa da virada do século XIX para o XX que caísse de paraquedas em 1950 ficaria boquiaberta com as maravilhas tecnológicas à sua volta. Em vez de carruagens puxadas por cavalos, ela veria ruas e estradas abarrotadas de carros, caminhões e ônibus. Nos centros urbanos, gigantescos arranha-céus se enfileirariam no horizonte e pontes descomunais cruzariam águas que, antes, apenas embarcações podiam transpor. Máquinas voadoras desfilariam pelo céu levando pessoas de um continente a outro em horas em vez de dias. Dentro de casa, o primeiro viajante do tempo teria que lidar com um ambiente novo e estranho, repleto de aparelhos elétricos: rádios e televisores que emanam sons e até imagens, refrigeradores que mantêm a comida gelada, máquinas que lavam roupas automaticamente e muito mais. Um novo mercado de proporções nunca vistas, com várias opções de comidas desenvolvidas tecnologicamente – legumes congelados para guardar na geladeira e café solúvel, para citar alguns –, tornaria obsoletas as idas diárias ao mercadinho.
A própria expectativa de vida seria radicalmente diferente: doenças outrora fatais poderiam ser evitadas com uma injeção ou curadas com um comprimido. As transformações materiais do ambiente – a velocidade e a potência dos aparatos do dia a dia – seriam extremamente desnorteantes para esse viajante do tempo.
Já o homem