A arte indígena
A palavra arte - enquanto categoria geral da estética - não tem equivalentes em línguas nativas, embora haja várias palavras para designar todos os tipos de artesanato, habilidades e comportamentos que unificamos sob o nome de "arte indígena". A rigor, a idéia de uma arte dos povos ditos "primitivos" é uma criação dos antropólogos influenciados por filósofos da arte. Sob esta denominação foram reunidas danças, rituais, pinturas e enfeite corporal, cerâmica, música, fábulas, artefatos mágico-cerimoniais e objetos do uso diário.
O motivo principal que leva esses povos a criar e consumir coisas "artísticas" raramente é o prazer estético; em geral é de ordem mágica, utilitária ou educativa.
O exame sistemático que os antropólogos fizeram dos comportamentos e artefatos indígenas organizados esteticamente levou à descoberta de artes esquecidas pelos civilizados; É o caso da pintura corporal, ou dos arranjos de penas, há poucas décadas considerados brinquedos de "povos infantis".
Essas artes não se fundiram significativamente com as européias e africanas, formadoras de nossa tradição arística. Entretanto, representam 30.000 anos da história - ou "falta dela" -, pois esses povos não tem memória do passado além de algumas gerações.
As raízes profundas do espetáculo ritual
O único passado que os indígenas conhecem é o mítico, reconstruído a cada geração para atender às necessidades da cultura que o inventa. É um pseudo-passado que serve não para registrar fatos concretos - como pretende nossa "ciência" da história - , mas para explicar fenômenos naturais e tabus.
Os tabus são as proibições nascidas de necessidades reais e da distribuição do poder entre os membros da tribo. Como a natureza, as necessidades sociais e a distribuição de poder mudam com o tempo, esse passado também muda, num constante processo de mitopoiese - a criação da narração mítica - que se faz pela rearticulação dos mitemas, ou elementos dessa narração.