A arte fora de mim
Ou
A Arte Fora de Mim
Por Sîan
“Por que fazer uma obra de arte quando é tão melhor sonhá-la?”
Última frase do filme “O Decamerão”
Há um ano e meio, eu me encontrei em apuros. Eu estava fazendo o diagnóstico de uma garota adolescente, cuja queixa era o seguinte: “algo está de errado com minha filha.
Não consigo mais me relacionar com ela. Seria culpa da minha separação? Ou talvez culpa do meu namoro?” Enfim, a mãe sofria de um quadro que acomete somente os adultos: a
Síndrome da Adolescência.
A menina, por outro lado, se viu lançada na terapia, e foi-lhe dada a primeira tarefa: fazer o psicólogo se abrir e estabelecer um vínculo com ele. Certo dia, ela trouxe uma ferramenta terapêutica: uma poesia. O poema descrevia uma menina sentada em uma pedra, olhando o mar. Havia pedra, havia brisa, havia ondas, havia horizonte. Haveria um sentido. Falei, “Sim! Olha a vida!” Ela respondeu, “não, veja o horizonte.” Falei, “Sim!
Quanto confusão e novidade a esta idade!” Ela: “não, veja as ondas.” “Sim! Olha você!”
“Não, veja a menina na pedra.” E a psicologia clínica apontando: “Ahã! A Resistência!”
“De todo o escrito, só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue.
Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito.
É difícil compreender sangue alheio: eu detesto todos os ociosos que lêem.”
Assim Falou Zarathustra, Ler e Escrever, Parte 1
Fico a me perguntar: que tipo de leitores temos nós, da área psi e intelectuais, sido?
Mais um século, a previsão do Nietzsche, mais um século, e o próprio Espírito terá mau cheiro. Passou-se um século inteiro de análise e práticas terapêuticas que lançam mão da arte como ferramenta, como caminho rumo ao auto-conhecimento. Deve haver uma intenção simbólica por trás da arte. E quando não há... arrá! Eurequemos! Quando o cliente barra paciente concorda conosco, ele tem um insight. O que é tudo muito útil e bonito.
Muita gente já se beneficiou com as introspecções