A AMEA A DA HEPATITE D
Um vírus agressivo, pouco pesquisado e que causa cirrose, câncer de fígado e até mesmo a morte dos infectados ameaça indígenas e ribeirinhos da Região Norte e, devido ao fluxo migratório, pode se disseminar pelo Brasil. O alerta é de um dos maiores especialistas em hepatites virais do país, Raymundo Paraná, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia. Segundo o médico, a pouca atenção dispensada ao vírus delta, causador da hepatite D, faz com que a doença seja uma das mais negligenciadas do mundo e represente grande risco à população. “Se não houver uma ação concentrada de prevenção e combate, não podemos esperar coisas boas”, avisa.
Conhecida também como febre negra e descrita desde a década de 1930, a hepatite D atinge 15 milhões de pessoas no mundo. Um número pequeno, comparado à prevalência do vírus B, que contamina 50 milhões de habitantes por ano. Mas, se o tipo B pode ser assintomático, o delta provoca efeitos devastadores. Além disso, o Brasil é o país que tem a maior concentração de hepatite D num único estado: no Acre, 1,3% da população é portadora da doença. “É uma incidência altíssima para os padrões mundiais. Não tem nada igual no resto do mundo”, diz Paraná. A prevalência está na chamada Amazônia Ocidental, que engloba municípios do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Os três primeiros estados são os que sofrem mais com a doença.
O vírus delta tem uma característica que o diferencia de todos os demais. Ele só entra em ação quando associado a outro: age como parasita e se protege dentro do vírus B. A doença se desenvolve de duas formas. Quando o paciente já está com hepatite B e é contaminado pelo delta, as consequências à saúde são mais graves. O novo vírus faz com que o B ataque com mais força, acelerando o processo de cirrose e câncer de fígado. Em 5% dos casos, pode matar. A abordagem da doença é mais branda quando os tipos B e D são adquiridos ao mesmo tempo. Embora também haja risco de morte, as hepatites, nessa