A Alma Imoral
O ser humano é talvez a maior metáfora da própria evolução, cuja tarefa é transgredir algo estabelecido.
Admitir que é possível para a criatura fazer algo que não pode é chamá-la a criar junto, seja pela obediência ou pela transgressão. Perceba-se que mesmo a obediência ao que é proibido é distinta da obediência ao que é comandado. Obedecer ao proibido por opção é de ordem evolucionária, com também a transgressão.
Assim, por alma não devemos entender nenhuma outra ordem distinta do corpo. A necessidade de uma dualidade que gera o temo “alma” se encontra nessa capacidade humana de optar entre cumprir ou transgredir. A alma seria parte do corpo, sua parte transgressora.
O próprio texto bíblico é composto de estranhas transgressões em meio a tantas assertivas de cumprimentos à lei.
Transgredir é transcender, e nossa história não teria mártires no campo político, científico, religioso, cultural e artístico caso fosse possível transcender sem colocar em risco a sobrevivência da espécie.
É possível obedecer e desrespeitar e também desobedecer e respeitar. Estas duas possibilidades, na consciência humana, permitem a concepção da alma. Pois é a alma que identifica, para além dos interesses do corpo, tanto as desobediências que respeitas como as obediências que desrespeitam.
Tratado de Menachot, em nome do rabi Shimon bem Lakish: “A preservação da lei é, em várias ocasiões, obtida através do rompimento com a lei e ab-rogação da mesma”.
Toda lei que não deixa em aberto a possibilidade de sua execução, justamente por sua desobediência, é uma arbitrariedade.
A opinião pública, os dogmas, as convenções, a moralidade e as tradições podem muitas vezes querer representar uma “unanimidade” que os desqualifica como determinadores do que é justo, saudável ou construtivo.
O herói do copo é aquele que surpreende os outros e os seduz. Seus poderes são fazer uso do passado e de suas